Deputados LGBTQIAPN+ beneficiam uma diversidade de pautas que são ignoradas por políticos “homens brancos, velhos, empresários e herdeiros”, diz deputado distrital Fábio Felix (PSOL)

O resultado das eleições de 2022 trouxe números históricos entre os deputados LGBTQIAPN+ (Lésbica, Gay, Bissexual, Trans, Queer, Intersexual, Assexual, Pansexual, Não Binário e outras). Dezoito pessoas que estão inseridas dentro da comunidade foram eleitas para a Câmara Federal e Assembleias Legislativas (ou Câmara Distrital, no caso do DF). Além disso, pela primeira vez, o Brasil tem duas deputadas trans. Parte dessa conquista vem do número de candidaturas no pleito no ano passado, que indicou um aumento de 119% em relação ao mapeamento feito em 2018, quando o VoteLGBT+ – uma organização que atua desde 2014 para aumentar a representatividade em todos os espaços da sociedade – identificou 157 candidaturas. 

Porém, não apenas ter mais candidaturas garante uma diversidade entre os deputados e demais políticos brasileiros, a votação e a luta realizada por esses representantes impactam de fato no resultado. Em entrevista à Beta Redação, o deputado distrital Fábio Felix (PSOL-DF) afirma que esse avanço é fruto de um grande esforço por representatividade na política. “Nossas vozes trazem para o debate público pautas historicamente invisibilizadas porque a política tradicional é ocupada majoritariamente por um perfil: homens brancos, velhos, empresários e herdeiros. A sociedade entendeu que avanços sociais estão diretamente ligados à diversidade da política”, explica Felix, um representante preto e gay. 

A pluralidade entre os políticos eleitos não apenas traz uma representatividade para a própria comunidade, mas também para pautas que precisam de uma visão menos conservadora, como a legalização do aborto e a luta contra o feminicídio, pautas em que o deputado está inserido. 

Segundo Felix, as mulheres, pessoas negras, indígenas e a própria comunidade fazem mandatos plurais no que diz respeito a pautas, derrubando rótulos que gostam de impor a eles e colocando-os como políticos que são reféns de “mandatos de uma pauta só”. “A gente tem provado para a população que atuamos em diversas lutas, o que deu a segurança para que o voto em candidaturas como a minha rompesse bolhas, atingindo marcos históricos, inclusive. Tenho muito orgulho de ser o deputado distrital mais votado da história do Distrito Federal e de ter uma atuação muito contundente na área da saúde, da educação, da assistência social, em defesa do serviço público, dos direitos humanos e de muitas outras temáticas”, conta Felix, eleito com mais de 51 mil votos. 

Entre as atuações do deputado distrital, estão êxitos que são importantes de serem destacados. Pautas LGBTs estão presentes, como a criação das repúblicas LGBTQIAPN+, que oferecem acolhimento para mais de 2 milhões de LGBTs expulsos de casa, e recursos para o ambulatório trans, ao qual foram destinadas emendas para a manutenção do espaço. Porém, Felix também foi relator da CPI do Feminicídio na Câmara Legislativa do Distrito Federal, apontando falhas nos serviços de proteção às mulheres. Além disso, trouxe a aprovação da lei que cria pontos de apoio para entregadores do Ifood, garantindo mais direitos para a profissão. 

Além de deputada federal, Daiana Santos também é educadora social e sanitarista. (Foto: Reprodução/PCdoB)

A deputada federal Daiana Santos (PCdoB) também é uma grande figura política LGBTQIAPN+ em ascensão. Inicialmente, foi eleita a primeira vereadora assumidamente lésbica, e atualmente é, como ela mesma se refere, a primeira deputada federal negra e sapatão do Rio Grande do Sul. 

Daiana contou para a Beta Redação que essa ascensão está acontecendo pois a população entendeu a importância da representatividade na política. “As comunidades LGBTQIAPN+, negras e negros, povos indígenas e PCDs necessitam estar presentes nos espaços de decisões do poder público”, afirma Santos. 

Quando o assunto se trata de políticos LGBTQIAPN+ que representam uma pluralidade de pautas, não apenas dessa comunidade, a deputada federal concorda com o deputado distrital Fábio Felix. Para Daiana, é importante lembrar de onde ela veio, nunca dando as costas para os eleitores que a levaram onde está hoje. “Aqui não estou sendo apenas a Daiana, mas sim um projeto político no qual quase 90 mil pessoas do Rio Grande do Sul confiaram. É muito importante que a gente discuta políticas de prevenção de desastres climáticos, defenda os direitos das mulheres, negras e negros e indígenas”, alerta Daiana. 

As atuações da deputada estão muito além da comunidade LGBTQIAPN+. A luta pelas mulheres negras é incessante. Iniciando o mês, a deputada esteve presente na sessão solene de abertura do Outubro Rosa, e discutiu sobre a relação das desigualdades com o adoecimento das mulheres, em especial as negras, que lideram os índices de mortalidade por câncer de mama. Daiana trouxe dados do Ministério da saúde, destacando que a doença vitima 40% mais as mulheres negras do que as mulheres brancas. 

Por: Milla Lima