Alan Rodrigo Krug da Silva, que escolheu ser conhecido profissionalmente apenas como Alan Krug, nasceu e cresceu em São Leopoldo, no Vale dos Sinos. Desde pequeno, sabia que queria estar no palco. Mesmo sem ter aula de teatro na escola, o interesse pela arte sempre esteve presente. Quando surgia qualquer atividade que envolvesse uma encenação, uma apresentação… lá estava ele. Era sempre o escolhido para os papéis. E, se dependesse dele, seria assim todas as vezes.
“Na escola não tinha aula de teatro, e aquilo me frustrava. Era algo que eu sempre quis. Sempre admirei quem fazia e queria muito ter aquilo na minha rotina”, relembra.
Por um tempo, até tentou seguir outros caminhos. Não exatamente por vontade própria, mas por ceder às pressões que quase todo artista já ouviu: “Arte não dá futuro”. Chegou a iniciar faculdades de Serviço Social, Biologia e Nutrição. Nenhuma foi até o fim. “Não era o que eu queria. Eu sabia disso. Só tentava atender à expectativa dos outros”, admite.
O teatro, por outro lado, nunca saiu de cena. E foi em 2012 que deu o primeiro passo concreto: se inscreveu em um curso profissionalizante de teatro oferecido pela Secretaria Municipal de Cultura de São Leopoldo. A partir dali, nunca mais deixou os palcos.
“A vida de um artista oscila bastante, mas, graças a Deus, eu sou um artista privilegiado, porque sempre consegui me manter muito bem com o teatro”, reflete.
Entre luzes, cenas e estradas: o palco como endereço
Há 11 anos, o grupo Luz & Cena se tornou uma extensão da vida de Alan. Entre idas e vindas, porque a vida de artista raramente é linear, o coletivo foi mais do que trabalho.
O grupo, fundado em 1978, se especializou em levar espetáculos a municípios do interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Lugares onde, muitas vezes, o teatro não chega. Ao longo dessa jornada, Alan já passou por mais de 300 cidades, levando cultura, arte e histórias a públicos diversos.
Mas não é só sobre atuar. Para dar conta das demandas do grupo, Alan também precisou aprender iluminação, uma função que, além do palco, o colocou nos bastidores. Monta e desmonta cenários, configura som e luz, cuida dos detalhes técnicos. A estrada virou escola.
A rotina é puxada: chega pela manhã na cidade, monta tudo, apresenta, desmonta e parte para o próximo destino. Tão intensa que, muitas vezes, não dá tempo nem de saber se aquela cidade tem praça, tem centro, tem vida além do teatro.
“Às vezes, é: chega, monta, apresenta e vai embora. Mal dá tempo de conhecer o lugar”, conta.
Quando o glamour da TV vira só mais um cenário
O teatro foi, é e sempre será sua casa. Mas, por curiosidade, ou quem sabe para testar os próprios limites, Alan também experimentou o universo da televisão. E descobriu, na prática, que o glamour das telas não passa de ilusão.
Por indicação de uma agência, fez figurações em filmes, novelas e programas da Globo. Esteve nos bastidores de Malhação: Sonhos, em 2015. Viu de perto aquele mundo que, para tanta gente, parece inalcançável.
“Quando entrei nos estúdios da Globo, parecia que eu tava em outra dimensão. Mas, lá dentro, como figurante, não pode falar com ninguém, não pode tirar foto… só trabalhar. A gente cresce idealizando aquilo e percebe que, no fundo, é só mais um trabalho, como qualquer outro”, relembra.
Foi ali que ele teve certeza: sua paixão estava mesmo no teatro, no olho no olho, na respiração que conecta artista e plateia.
O palco mudou, mas a atuação segue
Fora dos palcos, Alan encontrou um outro tipo de cena. Por indicação de um amigo, começou a trabalhar no Majestic, um bar noturno que virou, para ele, quase uma segunda companhia teatral. O público? Majoritariamente LGBTQIA+. O figurino? Bem mais livre. O roteiro? Escrito na hora, a cada cliente que chega.
“O atendimento, para mim, é quase uma extensão da atuação. O cliente que senta ali escolheu gastar dinheiro naquele lugar. Então, ele merece viver uma experiência, não só consumir um produto”, explica.
Ali, dança, serve, conversa, acolhe. Tudo com aquele mesmo olhar de quem aprendeu, no teatro, que a vida só faz sentido quando se compartilha presença. E se no Luz & Cena a agenda é instável, no Majestic é flexível. A proprietária, Vanessa, ajusta os horários de Alan conforme as demandas do grupo de teatro.
A vida que (não) cabe num roteiro
Morar no Luz & Cena já foi uma possibilidade, e, por um tempo, uma necessidade. Durante as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024, Alan precisou se abrigar ali, no espaço que já era quase casa.
Mas entendeu, com o tempo, que também precisava de um espaço que fosse só dele. Hoje, mora sozinho, no seu próprio apartamento. E, entre viagens, ensaios, apresentações e noites no Majestic, segue construindo um roteiro que não cabe em nenhuma peça.
Quando pode, gosta dos programas simples: cozinhar, assistir a filmes e visitar as irmãs.
Seguindo do jeito que faz sentido para ele
Alan sabe que poderia ter seguido outros caminhos. Até tentou. Mas entendeu, na prática, que viver de arte não era só um desejo, era o que fazia sentido para ele. E assim segue: trabalhando, se organizando entre escalas, apresentações, desmontagens e noites no Majestic.
“Até aqui deu certo. E enquanto fizer sentido para mim, sigo fazendo”, conclui.
Porque, no fim, é isso: trabalho, rotina, escolhas e, acima de tudo, vida real.