Localizado próximo ao Arroio Feijó, o bairro Americana, em Alvorada, sofre há mais de 20 anos com alagamentos. De acordo com a Defesa Civil, com as chuvas de setembro de 2023, 1.037 casas foram atingidas no município, a maioria localizada no bairro. Na enchente de maio deste ano, a situação se agravou.
“Acho que foi a experiência mais sofrida e traumática que passamos até hoje. Nunca tinha vivido nada parecido. Não sabíamos qual a proporção das perdas, mas víamos que seriam muitas”, relata a moradora do bairro Roselia Nascimento Becker, de 54 anos.

A professora aposentada reside em um terreno onde ficam três casas: a dela, a da filha e do genro e a da família de um irmão. “Vivo aqui há 51 anos e foi a primeira vez que alagou minha casa. Ela fica no nível abaixo da rua, que não alagou. A água veio pelos fundos do pátio, começando pelo esgoto, ralos. A rua de trás da minha já alagou algumas vezes”, descreve.
Para a moradora Caroline Becker Marques, de 27 anos, a enchente afetou sua vida completamente. “Passamos um mês fora de casa. Eu sou arquiteta autônoma, então fiquei um mês inteiro sem trabalhar. Não tínhamos vontade de voltar para casa e pretendemos nos mudar”, ressalta.
Caroline, que já tinha o hobby de compartilhar a rotina nas redes sociais, resolveu postar um vídeo no Instagram falando sobre a situação da sua residência e a da família, mostrando a rotina de recuperação e limpeza dos lares. Assim surgiu a série de vídeos nomeada “Diário pós-enchente”. As produções já atingiram mais de 10 milhões de visualizações no Instagram. “A viralização nas redes sociais está ajudando muito, pois recebemos diversas mensagens positivas das pessoas e conseguimos recuperar os móveis perdidos através da Vakinha online. Isso tudo nos ajudou a prosseguir e ter esperança”, conta.

Descaso do setor público
Roselia relata que, apesar dos avisos do governo do Estado do Rio Grande do Sul sobre as chuvas constantes e os riscos de alagamentos, ela e a família não tinham noção de que a água poderia atingir suas casas. “Não recebemos nenhum tipo de apoio do setor público, da prefeitura ou da Defesa Civil. Somente dos nossos amigos mesmo”, afirma.
A moradora ainda destaca que nunca houve a manifestação do poder público sobre como solucionar esse problema recorrente. “Um tempo atrás, criou-se uma comissão para a construção de um dique próximo ao Arroio Feijó. Mas, devido à complexidade do problema e o grande risco, nenhuma empresa se dispôs a fazer a construção. E a comissão não deu em nada”, conta.
A Beta Redação entrou em contato com a prefeitura de Alvorada, nos dias 11, 19 e 24 de junho, para solicitar informações sobre as medidas de apoio aos moradores e soluções que estão sendo desenvolvidas, porém, não obteve retorno.