Ao longo da trajetória, o partido se descolou das suas origens ideológicas, o que motivou a insatisfação dos filiados da sigla

O Rio Grande do Sul é um Estado onde o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) teve raízes profundas. Na terra de Getúlio Vargas, participou de diferentes governos estaduais, foi a quarta maior sigla na eleição de prefeitos em 2020 mas vive uma crise que vem desidratando seus correligionários.

O ano era 1945. Nele, fundava-se o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Sob chancela governamental, a sigla nasce com o então chefe do Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas, no poder desde 1930.

Na época, rotulado como a melhor opção partidária para o trabalhador brasileiro. Visto que mobilizava diversos recursos humanos, técnicos e financeiros no Ministério do Trabalho.

De 1945, sua fundação, até 1965, sua extinção pela caneta dos generais, o PTB foi um abrigo para o mundo do trabalho, para o controle dos trabalhadores e dos seus sindicatos e contra a expansão do Partido Comunista no pós-guerra.

Logo, cumpria a função que o líder Getúlio Vargas havia desenhado para o desenvolvimento da sigla. Já na democracia, esteve do lado de presidentes à esquerda e à direita.

Em processo avançado de decadência, a legenda, em 2018, fechou com o atual vice-presidente Geraldo Alckmin. Porém, quando a candidatura do PSDB não prosseguiu, ingressou com armas e bagagens na aventura de Jair Messias Bolsonaro.

Se já possuía atitudes da direita, moveu-se para a ultradireita. Trocou as cores originais de sua bandeira – vermelho, branco e preto – pelo verde-amarelo.

Sob comando do ex-deputado federal Roberto Jefferson, abraçou o discurso de ódio, obscurantismo religioso e o armamentismo. O que resultou na sua prisão. Envergonhando todos adeptos do partido, hoje, o presidente do diretório nacional do PTB está enroscado em sete artigos do Código Penal, três da Lei de Segurança Nacional e mais três normas de leis avulsas.

O futuro indefinido do PTB no Vale do Caí

Com o passar dos anos, o PTB está deixando de ser protagonista no cenário político estadual e, dificilmente, terá candidatos no Vale do Caí no pleito municipal de 2024. Atualmente, a sigla está em processo de fusão com o Patriota, processo que deverá resultar na criação do Mais Brasil.

Logo após a última eleição municipal, o PTB vem reduzindo seus diretórios. Políticos tradicionais ligados ao partido no Estado estão migrando para outras siglas gradativamente. A debandada no partido se iniciou quando o então presidente nacional do partido, Roberto Jefferson, atacou o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, por sua lealdade a Eduardo Leite e decretou intervenção no diretório estadual.

Diante disso, lideranças políticas como Dirceu Franciscon e Luiz Carlos Busato saíram do PTB e foram eleitos deputados estaduais e federais, respectivamente, pelo União Brasil em 2022. Já o atual secretário de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, Ronaldo Santini, e o ex-deputado federal Maurício Dziedricky, nomes conhecidos no Vale do Caí, trocaram o PTB pelo Podemos. Também o ex-governador Ranolfo Vieira Júnior, que não foi candidato em 2022, migrou para o PSDB, partido do seu companheiro político Eduardo Leite.

O Vale do Caí possui 19 municípios. Na região, o PTB elegeu quatro prefeitos na eleição de 2020. Ernani Forneck, em Harmonia; Marlí Lourdes Oppermann Weissheimer, em São Vendelino; José Hilário Junges, em Tupandi; e Gustavo Zanatta, em Montenegro. O partido conta também com dois vice-prefeitos: Margarete Gossenheimer, em São Vendelino e João Guilherme Weschenfelder, em Bom Princípio. Além disso, a sigla possui ainda 22 vereadores no Vale da Felicidade.

A data do pleito eleitoral municipal 2024 ainda não foi oficialmente definida pela Justiça Eleitoral. Entretanto, a tendência é que o primeiro turno ocorra dia 6 de outubro e o segundo no dia 27. Dessa forma, a Beta Redação entrou em contato com algumas lideranças políticas do partido para saber quais serão as decisões para o futuro.

Prefeito de Montenegro confirma migração para o Republicanos

Prefeito da maior cidade do Vale do Caí, Gustavo Zanatta (PTB) elegeu-se em Montenegro. Admirador da história da sigla, o político lamentou a situação atual. “Tenho convicção que trocarei de partido. Já recebi vários convites. Tenho um ótimo relacionamento com diversas legendas”, explica o prefeito.

Gustavo Zanatta foi eleito o prefeito mais jovem da história recente de Montenegro, aos 41 anos. (Foto: Arquivo pessoal/Gustavo Zanatta)

Questionado sobre o seu futuro, Zanatta admite já seu posicionamento. “Na janela, vou migrar para o Republicanos. Além disso, serei candidato à reeleição juntamente ao meu vice-prefeito e amigo Cristiano Braatz (MDB)”, garantiu.

A dupla tem frisado a importância da parceria com a iniciativa privada, com adoção de espaços como praças e canteiros e realização de eventos e campeonatos. Além disso, investimentos em pavimentações asfálticas no centro e interior e revitalizações em espaços públicos.

“Temos 26 bairros e 33 localidades. São mais de 60 mil pessoas. Aos poucos, vamos desenvolvendo Montenegro com a essência da política: melhorar a qualidade de vida das pessoas”, completa o gestor montenegrino.

Prefeito de Harmonia também deixará a sigla

Sem chapa adversária, o prefeito de Harmonia Ernani Forneck elegeu-se com 2.624 votos pelo PTB em 2020. Chateado com a sigla atual, o gestor já tem partido definido para buscar a reeleição no próximo pleito. O chefe do Executivo harmoniense irá ingressar no União Brasil, uma vez que considera natural devido à aproximação com a eleição municipal e o contato que mantém com pessoas ligadas ao partido.

“O União Brasil, é possivelmente, o partido com o maior número de pessoas que estavam no PTB, casos de Dirceu Franciscon e Luiz Carlos Busato, por exemplo, que são parceiros de Harmonia e nos auxiliam junto à Assembleia Legislativa, governo do Estado e na Câmara dos Deputados”, salienta Ernani.

Ernani Forneck havia sido vice-prefeito por dois mandatos antes de assumir o Executivo de Harmonia. (Foto: Arquivo pessoal/Ernani Forneck)

Atualmente, o prefeito de Harmonia coordena reuniões com lideranças do município filiadas ao PTB. Logo, o diretório municipal decidiu, em conjunto, pela adesão ao União Brasil. “Iremos fundar o partido no nosso município, em breve, e buscar novas filiações tendo em vista o próximo pleito.”

Todavia, o político explica que os vereadores só poderão trocar de sigla quando abrir a janela partidária, seis meses antes do pleito. “Tudo indica que todos os petebistas migrem para o União Brasil”, complementa.

Ernani assegurou ainda que é pré-candidato à reeleição, com o objetivo de dar andamento ao trabalho realizado pelo grupo que está à frente da gestão. “Devido ao trabalho que estamos fazendo em todas as frentes, somado a muitos projetos na educação e na saúde que estamos querendo promover. Por isso, meu nome está à disposição como pré-candidato”, completa.

Nada definido ainda em Bom Princípio

Desde 2017, João Guilherme Weschenfelder é vice-prefeito de Bom Princípio. Joãozinho é cotdo como sucessor do atual prefeito Fábio Persch (PSDB) na Terra do Moranguinho. Mesmo assim, o político, que é filiado ao PTB, ainda não confirma se estará no pleito em 2024.

“Toda e qualquer afirmativa neste momento, sem antes fazermos uma avaliação e análise, é precoce. O que posso dizer é que a decisão não ocorrerá por imposições ou vontades próprias, mas pelo bem comum.”

Para João, o foco principal é seguir a gestão municipal como já vem se desenvolvendo nesses anos. “O nosso compromisso é finalizar o mandato. O que virá depois, ainda é cedo para falar”, salienta.

Duas vezes vice-prefeito, Joãozinho também acumulou cargos no Legislativo de Bom Princípio. (Foto: Arquivo pessoal/João Weschenfelder)

Visto a relação com o cenário nacional e estadual do PTB, o vice-prefeito diz que o grupo partidário liderado por ele no município está buscando a formação de uma ou mais novas siglas, de acordo com a demanda e a possibilidade de cada um dos filiados. “Buscamos fazer o que é melhor para a totalidade. Acredito que, até o final do ano, serão tomadas decisões”.

Para ele, no atual momento, nada pode ser afirmado com exatidão, todavia, revela que há tratativas. “A probabilidade é grande dos que hoje integram o PTB, no mais breve, andem por caminhos diferentes, não em um único bloco, mas nos manteremos unidos como aliados políticos”, explica.

O vice-prefeito Joãozinho analisa ainda a sua perspectiva para o cenário político em Bom Princípio em 2024. “O município está crescendo de forma rápida. Dessa forma, há cada vez mais pessoas que pensam diferente. Isso é positivo”.

Para o político, se houver duas ou mais frentes para o pleito, que assim o seja, desde que se mantenha a cordialidade e o respeito. “Hoje a relação entre os diferentes grupos políticos é harmônica, portanto, desejamos que assim continue”, finaliza o vice-prefeito.