Filme homônimo do livro de Martha Batalha, vencedor da mostra Um Certo Olhar em Cannes e indicado a representar o Brasil no Oscar

As irmãs Eurídice e Guida, jovens dos anos 50 no Rio de Janeiro, viviam uma vida comum com os pais. De temperamentos diferentes, as duas seguiram caminhos opostos na vida. Interpretadas respectivamente por Carol Duarte e Julia Stockler, potências da atuação atual, as irmãs Eurídice e Guida tiveram seus sonhos anulados pelo machismo da época.

Eurídice e Guida Gusmão / Foto: divulgação

Eurídice, interpretada por Carol Duarte – a Ivana e o Ivan de A Força do Querer –, sonhava em ser pianista, sonho interrompido por um casamento convencional. As cenas produzidas para causar incômodo no espectador mostram uma esposa e mãe dedicada, que vai se moldando à submissão a cada nova sequência de takes. A cena mais revoltante do longa, retrata o momento pós cerimônia de casamento, a noite de núpcias. Eurídice perde a virgindade de maneira grosseira e abusiva de seu marido Antenor.

Eurídice trancada no banheiro após a cerimônia de casamento. Foto: reprodução

Já Guida, é enganada de diversas maneiras pelos homens que a rodeiam, incluindo seu pai, que mente sobre o paradeiro da irmã. Enganada a vida inteira, a personagem luta para criar sozinha o filho e conta com uma amiga para ser sua família e lhe acolher de maneira emocionante.

A atriz, Julia Stockler, que fez parte do elenco de Verdades Secretas II, volta no final do longa como outra personagem e não mais como Guida, trazendo ainda mais emoção à trama junto de Fernanda Montenegro, a Eurídice idosa em busca de respostas.

Guida Gusmão, interpretada por Julia Stockler. Foto: reprodução

A obra escrita transformada em filme premiado

O livro que deu origem ao filme, o primeiro lançado por Martha Batalha, em 2016, se tornou altamente desejado antes de seu lançamento, inclusive, com direitos vendidos para mais de 10 editoras internacionais. Em seguida, a obra foi adaptada para o cinema, em 2019, contando com profissionais estrangeiros renomados para a música e a fotografia, que são partes extremamente relevantes para toda produção audiovisual, mas em A Vida Invisível, é como a cereja do bolo ou o próprio recheio. Os takes são todos muito bem pensados, iluminação, proximidade e distância, perspectivas, elementos que levaram Hélène Louvart a vencer como melhor direção de fotografia no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Além disso, a música, que emociona e se encaixa perfeitamente nas cenas, é em sua maioria autoral, do pianista e multi-instrumentista alemão Benedikt Schiefer.

A direção de Karim Aïnouz, filho de uma brasileira e um argelino, conhecido por outras produções nacionais, como Madame Satã, é brilhante. O espectador sente a angústia das personagens, a maneira com que as cenas foram gravadas, diferente do que estamos acostumados, traz tamanha autoria e proximidade com o público. Esta última característica se dá a partir da compreensão que o público tem ao reconhecer outras mulheres em Eurídice e em Guida, esta, por mais que tenha sido protagonista de sua própria vida, não a viveu como sonhava.

Julia Stockler, Karim Aïnouz e Carol Duarte na 72ª edição do Festival de Cannes. Foto: reprodução

Não por acaso, o filme foi premiado em diversas categorias em diferentes festivais pelo mundo. Algumas categorias como: Festival de Cannes, Mostra Um Certo Olhar, 2019 e Prêmio do Júri e o Prêmio da Crítica Francesa (Festival Biarritz, 2019, França). Além disso, as protagonistas também se destacaram em diversas outras premiações nacionais e internacionais.

Para prestigiar o cinema brasileiro

A Vida Invisível está disponível para assinantes da plataforma de streaming Paramount Plus e para alugar na AppleTV e YouTube, pelos valores de R$11,90 e R$19,90, respectivamente. Além disso, o Canal Brasil possui agenda para duas exibições do longa, nos dias 12 e 14 de abril.

Confira abaixo a playlist oficial do filme:

Foto: reprodução