O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) é sede da exposição Storage Drama, do autor turco Özgür Kar, na 14ª edição da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. No segundo andar do prédio, a obra traz a melancolia em sua essência. Ao longo de cinco telas planas de televisão, povoadas por silhuetas de esqueletos, esses entes tão singelos quanto macabros, o artista conflui o pensamento maquínico-tecnológico com o que há de mais sensível no ser humano.
O artista trabalha com obras não lineares que funcionam como peças teatrais expandidas. Dessa forma, apresenta animações antropomórficas desenhados em branco que se contrapõem a um vazio negro ao fundo. Os personagens — deitados ou descansando em posições intrincadas — desenvolvem contos existenciais equilibrados entre o desejo, a melancolia e a solidão.
Os desenhos minimamente animados são ambientados em loops imperceptíveis que transformam vídeos em esculturas confinadas aos limites das telas planas de TV. Inspirado por uma variedade de influências, como o folclore europeu e turco, filmes de animação do início do século XX e desenhos animados da MTV dos anos 1990, Kar sobrepõe diversas fontes para representar a mudança no consumo digital, imaginada como uma experiência cacofônica que induz à autorreflexão. O artista também aponta para as maneiras pelas quais a tecnologia não funciona apenas como uma extensão e amplificação do corpo, mas também como um meio pelo qual o trabalho e o afeto são deslocados e concentrados.




O mediador da Bienal Mercosul, Kalvin Lima, 32 anos, conta que conhece o histórico pessoal e profissional de Özgur Kar. “Há uma curiosidade: embora suas obras sejam marcadas pelos sentimentos de inseguranças, traumas ou distúrbios, o artista é bem-humorado. Ele se diverte enquanto planeja as produções”, enfatiza.
“Nesta obra, ele trabalha com personagens instrumentistas produzindo paisagens sonoras multifacetadas que se desdobram por meio da repetição solene, forjando um medo existencial misturado a um ambiente macabro”, afirma Kalvin. “Logo, traz sentimentos de questionamento, ingenuidade e introspecção.”
Em visita à série, a professora Luelle Arnhold, 26 anos, graduada em Artes Visuais e Pedagogia, avalia a interconexão digital que o artista utiliza. “Kar trabalha com vídeo, som, performance e instalação. Isso possibilita que o artista realize a criação de uma variedade de obras. De maneira acessível, ele lida com a experimentação e a exploração de diferentes recursos tecnológicos. Ainda, traça relações entre o consumo digital e os sentimentos que essa utilização desenfreada vem despertando na contemporaneidade”, explica.
Até o dia 1° de junho, a Bienal reúne obras de 77 artistas de diversos países e se espalhará por 18 espaços, todos com entrada franca. Além do Margs, está presente em outros espaços: Fundação Iberê Camargo, Cinemateca Capitólio, Pop Center, Museu da Cultura Hip Hop RS, Fundação Ecarta, unidades da Estação Cidadania da Lomba do Pinheiro e da Restinga e a Fundação Vera Chaves Barcellos, em Viamão.
