A república romana vivia uma grande expansão territorial e fortalecimento político em meados de 70 a.C, mas ainda assim causava insatisfação no povo. Júlio César, ciente de que o poder se concentrava apenas no Senado, tomou a decisão de criar algo que informasse a população do que acontecia em seu governo. Assim surgiu a Acta Diurna, uma espécie de jornal ancestral que noticiava de maneira oficial os resultados das guerras, dos jogos, da igreja católica e das atividades políticas.
O tempo passou e, com ele, a forma de se divulgar informações também, desde a invenção da imprensa de Gutenberg, que facilitou a produção, até a Revolução Industrial, que tornou o produto melhor produzido e distribuído. Pela ótica de hoje, percebemos que boa parte da população tem acesso a jornais e notícias, e isso gera uma necessidade maior da produção de materiais jornalísticos, principalmente de histórias curiosas e inspiradoras.
Como jornalista, temos o dever de replicar essas histórias da forma mais fiel possível, respeitando os fatos e organizando a narrativa de forma que seja agradável de ler. Eu, ainda em formação, sempre segui esses princípios para a criação das minhas matérias. Contar uma história é sempre uma honra. Recentemente, em uma cobertura no jogo de ida da final do Gauchão feminino entre Juventude x Grêmio, tive a oportunidade de estar no meio dos Jaconeros com a missão de encontrar algum familiar de uma jogadora do clube.
Pra quem não está acostumado, é nessas horas que o jornalismo em sua mais pura essência surge. A gente vai lá pro meio e conversa com pessoa por pessoa até achar o ponto inicial da matéria. O primeiro passo foi conversar com os líderes dos Loucos da Papada, torcida organizada do clube, que de boca em boca nos ajudaram a encontrar atletas de base, que sucessivamente nos ajudaram a achar a esposa de uma das profissionais em campo.
Em uma conversa bem animada e recíproca, senti que havia encontrado a história que ia contar. A jogadora em específico havia vindo de uma cidade no interior do Nordeste, o que por si só já é algo impressionante. Além disso, ela lidou com lesões sérias, que não a impediram de assumir a posição de titular quando voltou, até mesmo sendo a escolha inicial de uma final importante como essa.
A sensação no momento foi ótima em saber que uma história tão interessante estaria em minhas mãos. Logo após o apito final, as apurações começaram. Para quem desconhece a vida de jornalista, ela segue alguns princípios básicos: encontrar o assunto sobre o qual deseja falar, apurar o máximo de informações sobre o que vai abordar e juntar tudo coletado para a criação de um texto com a sua própria identidade. Com isso em mente, logo entrei em contato com a esposa da atleta, que acabou não retornando, algo bem comum de acontecer.
Assim recorri a outras fontes, e com uma pesquisa aprofundada consegui encontrar a irmã dela, além de uma prima e o preparador físico do clube em que ela jogava em Alagoas. Todos, sem exceção, demonstraram prontidão em ajudar a fazer a pauta acontecer, o que é como ganhar na loteria. Claro, antes de dar prosseguimento às entrevistas, resolvi mandar mensagem para a própria jogadora, pois era a história dela que seria contada. Com a falta de resposta da mesma, resolvi dar andamento.
Entrevistei a prima, que me trouxe informações muito importantes. Também havia marcado uma conversa com o preparador físico e estava negociando um horário com a irmã dela. Nesse momento, a maior das decepções dessa profissão aconteceu. A personagem central da história havia me respondido, e não de forma positiva. Ela solicitou que eu não produzisse a matéria e que também parasse de conversar com qualquer pessoa próxima dela, o que foi um grande baque.
Analisando o que possivelmente poderia ter gerado essa divergência em relação à produção da matéria, imagino que tenha algo a ver com a exposição, principalmente familiar. Ela é uma atleta vinda do interior, que pratica um esporte que muitas vezes não é bem visto. Então, há a possibilidade de já ter recebido críticas dos familiares mais conservadores. Apesar de entender a opção dela, ainda acredito fielmente que a produção da matéria seria algo extremamente positivo.
Minha intenção era exaltar o futebol feminino e a sua história, mostrando que é possível sim seguir o sonho nessa carreira, mesmo que ele esteja a mais de 3.000 km de você. Como jornalista, respeitei a opção dela, mas não nego ter sentido um sentimento de frustração. Achar uma história importante que possa inspirar novas vozes nesse esporte não é tarefa fácil, e um relato forte como esse tinha tudo para inspirar as meninas que aspiram o mesmo sonho.
Apesar disso, creio que tudo pode servir como uma lição. Receber respostas negativas é algo que temos que aprender a lidar independentemente da nossa profissão, pois é algo comum e que nem sempre é carregado de má vontade, às vezes pode ser medo do que pode acontecer caso aceite a proposta. Muitas vezes nossos esforços para tirar o melhor de uma situação não necessariamente nos levarão aos resultados desejados, mas nos deixam mais preparados para quando enfrentarmos os próximos obstáculos.
Enfim, não obtive a matéria que tanto desejava, mas tive a oportunidade de escrever esse texto para compartilhar como é a vida nessa profissão, algo que ainda é muito novo pra mim. Tenho certeza de que ainda vou ouvir muito “não” e que não conseguirei fazer as coisas do jeito ideal. Também vou realizar grandes matérias e ter o privilégio de contar novas histórias. Independentemente de qual das opções aconteça, sei que a dedicação vai prevalecer.
Considerado o rei do futebol, Pelé, com inúmeros títulos e mais de mil gols, ainda assim teve um feito que não conseguiu alcançar e que foi batizado de “o gol que Pelé não fez”. Foi na Copa de 1970, quando o Brasil buscava o tricampeonato mundial no México. Na partida de estreia contra a Tchecoslováquia, o Brasil aplicou um 4 x 1, com gols marcados por Jairzinho, Rivellino e Pelé, mas o que mais chamou atenção da torcida foi o lance ousado tentado pelo rei.
Em dado momento da partida ele arriscou um chute de trás do círculo central tentando encobrir o goleiro da seleção adversária, Ivo Vikto, mas o chute não saiu como esperava. Depois dessa tentativa, viriam milhares de jogadores a tentar – e até mesmo fazer – o gol que Pelé não fez, o que deixa o feito ainda mais impressionante. Apesar disso, a falta desse feito não diminui em nada a carreira gloriosa que o rei do futebol nos deixou. E se até mesmo o melhor de todos os tempos ficou com algo faltando em sua carreira, eu, começando agora no jornalismo, posso me dar o direito de ter uma matéria que não fiz!
