Vinte anos depois do último título mundial conquistado por Natália Falavigna, o taekwondo brasileiro voltou ao lugar mais alto do pódio. Maria Clara Pacheco, natural de Santos, litoral paulista, tornou-se campeã mundial, conquistando um ouro que o Brasil não via desde 2003. O feito é histórico não apenas pelo resultado, mas pelo impacto que gera em um esporte que ainda luta por mais investimento, visibilidade e estrutura competitiva no país.
Enquanto o alto rendimento celebra conquistas, o taekwondo segue exercendo, no dia a dia, sua força silenciosa: a de transformar vidas. Esse é o caso de Jacque Ferreira, professora de artes marciais em Sapucaia do Sul, que encontrou na modalidade um caminho de autoconhecimento, reconstrução e propósito.
Na entrevista a seguir para a Beta Redação, Jacque fala sobre como o taekwondo acompanhou sua trajetória desde a infância, ajudou a resgatar sua autoestima e se tornou uma filosofia que guia suas decisões e sua vida.
O recente título mundial da Maria Clara Pacheco marcou o retorno do Brasil ao topo do taekwondo após duas décadas. O que essa conquista representa para você como professora?
Jacque: Representa esperança. Quando uma atleta brasileira chega ao topo mundial, ela mostra que o nosso país tem potencial. Mas também deixa claro o quanto precisamos de mais investimento e de mais oportunidades. Para quem trabalha na base, como eu, isso inspira, motiva e reforça que o taekwondo merece mais espaço no cenário esportivo nacional.
Você sempre fala que o taekwondo é mais que um esporte, é uma filosofia de vida. Como essa relação começou?
Jacque: Começou quando eu era criança. Eu estava enfrentando problemas de obesidade e tinha a autoestima bem comprometida. No taekwondo, encontrei um espaço onde eu não era definida pelo meu corpo, mas pela minha determinação. Cada treino era uma chance de me descobrir forte. Isso mudou completamente meu olhar sobre mim mesma.
Essa filosofia te acompanhou ao longo da vida?
Jacque: Com certeza. À medida que fui crescendo, os princípios do taekwondo se tornaram uma orientação para tudo: para ser uma mulher mais segura, uma mãe presente e uma profissional dedicada. Momentos difíceis foram atravessados com base nesses valores: cortesia, integridade, perseverança, autocontrole e espírito indomável. Eles se tornaram meu norte.
Você acredita que esses valores ultrapassam os limites do tatame?
Jacque: Totalmente. É isso que eu mais faço questão de ensinar. A técnica pode ficar no treino, mas a filosofia você leva para a vida. Perseverança para encarar desafios, autocontrole para lidar com conflitos, integridade para agir certo mesmo quando ninguém está vendo… são ensinamentos diários. O taekwondo forma caráter antes de formar atletas.
E qual o significado de ensinar taekwondo hoje?
Jacque: É devolver ao mundo o que o taekwondo me deu. Eu vejo alunos de todas as idades encontrando força, disciplina e confiança. E isso é a maior recompensa. A filosofia virou meu estilo de vida e, quando ensino, sinto que continuo caminhando junto com meus alunos, sempre aprendendo, sempre evoluindo.

