A maior feira literária a céu aberto da América Latina , fortalece pequenas livrarias e editoras e mantém viva a cadeia produtiva do livro no Estado.
Durante a 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, conversou com a Beta Redação sobre o impacto econômico do evento, os desafios do mercado editorial e o papel da instituição na sustentação de uma cadeia produtiva que vai muito além da literatura. A Feira, além de ser o maior símbolo cultural da cidade, se consolida também como uma engrenagem que movimenta o centro histórico, incentiva novos autores, fortalece editoras independentes e ajuda a manter vivo o hábito da leitura em tempos de transformação digital.
A Feira do Livro é tradicionalmente vista como um evento cultural. No entanto, ela também movimenta uma cadeia econômica importante para a cidade. Há números que ilustrem essa dimensão?
Dentro do mercado do livro, a gente consegue mensurar melhor. Agora, quando se fala em todo o entorno da Feira, é mais difícil estabelecer um número preciso. Mas é certo que o impacto é muito grande. O centro de Porto Alegre se transforma com a Feira, especialmente depois das enchentes do ano passado, quando várias áreas ainda estavam desabilitadas. A retomada do evento ajudou a reativar o movimento comercial e de serviços naquela região. Muita gente espera a Feira chegar para lançar produtos, fazer ações e aproveitar o público. É um movimento que vai muito além dos livros.

E como a Câmara Rio-Grandense do Livro tem atuado para fortalecer o mercado editorial gaúcho, especialmente diante das transformações tecnológicas?
O nosso principal desafio é atualizar os livreiros e associados. A Câmara tem buscado parcerias, como a que mantemos com o Sebrae, que oferece capacitações em gestão e transformação digital. Isso é fundamental, porque 95% dos nossos associados são pequenas empresas familiares. O mercado mudou, e a digitalização é um caminho sem volta. Então, precisamos garantir que esses empreendedores consigam se adaptar para continuar relevantes e competitivos.
A Feira também é uma vitrine para autores independentes e pequenas editoras. Qual o papel desses agentes no equilíbrio econômico e criativo do setor?
Eles são essenciais. Hoje é muito mais fácil produzir um livro com qualidade, mesmo em pequenas tiragens. A Feira funciona como porta de entrada para esses autores e editoras, que geralmente começam com um ou dois títulos. Muitos acabam migrando depois para editoras maiores. Esse processo renova o setor e incentiva a leitura, porque quem escreve também lê. A Feira cumpre esse papel de fomento, abrindo espaço para novos nomes e ideias.

Falando em parcerias, além do Sebrae, quais são os apoios mais decisivos para garantir a sustentabilidade da Feira?
Temos várias parcerias com os governos estadual e municipal, especialmente com as Secretarias de Educação. Um exemplo é o programa Adote um Escritor, que estimula o contato de alunos com autores e obras literárias. São projetos que acontecem o ano todo e culminam na Feira. Só neste ano, mais de 20 mil estudantes foram levados ao evento. Isso é resultado direto dessas parcerias, que garantem a formação de novos leitores e a vitalidade do setor.
A Câmara Rio-Grandense do Livro é uma entidade privada, certo? Como ela se mantém?
Sim, somos uma organização privada e sem fins lucrativos, que reúne toda a cadeia do livro — editores, livreiros, distribuidores, promotores de eventos e escritores. Nossa manutenção vem das mensalidades dos associados, em torno de R$ 200, e também de patrocínios e parcerias que viabilizam a Feira do Livro e outras ações ao longo do ano.
Quais são hoje as principais pautas econômicas e tributárias do setor editorial no Rio Grande do Sul e no Brasil?
A principal é a isenção de ICMS sobre o livro, que está sempre sob risco. Já houve tentativas de retirar esse benefício, e isso seria um desastre. Se hoje cerca de 20% da população compra livros, sem isenção esse número cairia para 5%, porque o preço subiria e o acesso diminuiria. Outro ponto é o abastecimento das bibliotecas públicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, 60% do faturamento das editoras vem de compras governamentais, o que mantém o mercado aquecido e as bibliotecas atualizadas. Esse é um modelo que o Brasil poderia seguir, porque fortalece toda a cadeia, do escritor ao leitor.

E, na sua visão, qual é o papel da Feira do Livro nesse ecossistema?
A Feira, além de um evento cultural, é uma engrenagem econômica e social. Ela impulsiona o comércio local, valoriza o centro da cidade e movimenta uma rede de empresas, autores e leitores. Mas, acima de tudo, ela mantém viva uma tradição que transforma o livro em um agente de desenvolvimento. É o símbolo de uma cidade que lê, se encontra e se renova a cada edição.
