“O futuro dos negócios passa pela liderança polímata”, diz CEO de empresa de tecnologia

Empreendedor com mais de 18 anos de trajetória, Bernardo Krebs defende que a integração de conhecimentos é a base para enfrentar os desafios do mercado global.
Bernardo Krebs CEO da Gama no SXSW

Em outubro de 2025, São Paulo será palco de um dos principais fóruns globais de debate sobre inovação, economia e liderança: o Horasis Global Meeting. O evento reunirá lideranças internacionais da Alemanha, Emirados Árabes, Austrália, Arábia Saudita, China e outros países, promovendo discussões sobre os rumos da economia global e as habilidades necessárias para enfrentar os desafios contemporâneos.

Entre os palestrantes confirmados está Bernardo Krebs, CEO da Gama, empresário com mais de 18 anos de trajetória em empreendedorismo, inovação e tecnologia. A Gama é uma empresa de tecnologia que integra vendas e marketing através da tecnologia para potencializar o comercial das empresas, principalmente b2b.

Bernardo participará do painel “Architecting the Polymathic Global Leader” (Arquitetando o líder global polímata, em tradução livre), que discutirá como a liderança polímata, baseada na integração de diferentes áreas do conhecimento e na versatilidade de atuação, pode moldar os líderes do futuro.

Na entrevista a seguir, ele compartilha sua visão sobre liderança, os desafios do mercado global e os aprendizados de sua trajetória à frente da Gama.

Você tem uma trajetória de mais de 18 anos de empreendedorismo. Como foi o início dessa jornada e quais desafios você enfrentou para chegar onde está hoje?

Seguir meu sonho. Na época, era ter autonomia profissional para trabalhar com algo que eu gostava e via uma oportunidade, comunicação digital. Ao longo do tempo, fui cada vez mais entendendo que meus objetivos precisam ser revisados constantemente, pois eles devem estar em sintonia com o mercado e com as relações que vão sendo criadas, como com clientes, sócios e colaboradores. Mas o fator chave para seguir empreendendo no Brasil é resiliência, pois a maior parte das pessoas empreende não porque enxerga uma grande oportunidade de negócio, mas porque precisa gerar renda diante de situações de dificuldade, como o desemprego. E isso cria um mercado complexo demais, pois temos uma condição econômica e política extremamente desafiadora, e a falta de tempo para planejar ações deixa isso tudo ainda mais complicado.

O painel “Architecting the Polymathic Global Leader” no Horasis Global Meeting envolve lideranças internacionais de diferentes países. Como você acredita que a liderança pode ser moldada para enfrentar os desafios globais contemporâneos?

Por mais que esse termo não seja novo, ele é pouco conhecido pela massa profissional do nosso país. Quando falamos em liderança polímata, estamos nos referindo a profissionais que transitam com profundidade por diferentes áreas do conhecimento, conectando saberes e aplicando soluções criativas com versatilidade. São grandes curiosos, com grande capacidade de criar, entregar, avaliar, refazer, ou seja, pessoas que focam na ação. E na ação estruturada, pois a curiosidade é a base do conhecimento, e isso reflete em entregas de qualidade. Grandes líderes polímatas que podem ser citados são Michelangelo, Isaac Newton e Leonardo da Vinci. Se pensarmos nos líderes atuais, vejo que o cruzamento de curiosidade com atitude pode nos dar um resultado de alto nível, ainda mais com uma oferta tão ampla de ferramentas e tecnologias.

O que você considera ser o principal diferencial de um “líder polímata” e como essa abordagem pode ser aplicada no mundo dos negócios?

Acredito que respondi parcialmente até aqui, mas vejo que a grande virada desse tipo de liderança é que a inquietação não é algo que precisa ser estimulada, ela é inerente ao “ser” desse tipo de pessoa. Pensemos que os níveis de ansiedade aqui no Brasil são assustadores, onde desde 2019 somos o país mais impactado por isso, segundo a OMS. No ano passado, 45% dos brasileiros relataram sofrer com esse fator, sendo que 65% está relacionado ao grupo de jovens de 18 a 24 anos. Então contarmos com pessoas que repensam contextos constantemente é fundamental, ainda mais em um ambiente que sofre com as incertezas no passado, presente e futuro.

Quais tendências você vê surgindo no mercado global que as empresas devem observar para se manterem competitivas nos próximos anos?

Vou trazer um insight muito legal que tive no SXSW (South by Southwest é um festival e conferência anual realizado em Austin, Texas, que celebra a convergência entre tecnologia, cinema, música, educação e cultura) deste ano. Assisti um painel com a presença da Brené Brown, uma das maiores estudiosas sobre lideranças no mundo, que foi questionada sobre quais habilidades seriam fundamentais para os líderes atuais. Fugindo da obviedade das tecnologias, ela indicou que os líderes que tiverem habilidade de explorar o uso de Paradoxo, Analogia e Poesia estarão em vantagem competitiva. Incrível como a ancestralidade humana terá um impacto tão forte em um mundo cada vez mais robotizado.

Em sua visão, como o Brasil se posiciona no cenário de inovação e liderança global, especialmente em comparação com países como Alemanha, Emirados Árabes e China?

Esse é um ponto muito desafiador. Cerca de 47 milhões de pessoas estão envolvidas em atividades empreendedoras, segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2024. Este número representa uma taxa de empreendedorismo de 33,4% da população adulta brasileira, o maior índice dos últimos quatro anos. Porém, o Brasil atingiu apenas 24% do patamar de produtividade dos EUA e está abaixo da média global, onde as pequenas e médias empresas apresentam 54% da produtividade das grandes. Ou seja, nossa força de trabalho opera praticamente na metade da sua capacidade. Isso significa que a nossa cultura empreendedora ainda está muito pautada na necessidade, e não na oportunidade. Movimentos de organizações de muita representatividade apoiam cada vez mais o desenvolvimento, como Sebrae, CIEE, Fiergs, Instituto Caldeira e universidades com seus parques tecnológicos. Mas a educação empreendedora precisa estar nas escolas, em todos os cursos de graduação, nas relações como um todo. Pois é assim que vejo possibilidade de combatermos algumas oportunidades específicas dos países citados, como o volume de pessoas na China, ou o potencial de investimento dos Emirados Árabes e a cultura de educação corporativa da Alemanha.

Ao falar sobre a evolução da Gama, quais foram os momentos decisivos que mais contribuíram para o sucesso da empresa?

O primeiro foi abrir a empresa pensando em oportunidade. Estudamos o mercado, vimos que a nossa capacidade técnica se encaixava com algumas necessidades e dores que existiam, e a partir disso começamos a fechar os primeiros contratos. Depois vem a quase quebra da empresa, pois decidimos ter uma startup em paralelo para abraçar novas oportunidades. A mensagem que ficou é óbvia de que não conseguimos abraçar o mundo, mas a obviedade muitas vezes se esconde no entusiasmo de algumas portas que se abrem na rotina. E então vem o aprendizado de sermos resilientes em inúmeras crises, desde internas com mudança de time e cliente, até externas como pandemia e a enchente de 2024. A experiência só vai chegar com o tempo, e quanto mais executamos, mais resilientes nos tornamos.

Você sempre teve um foco em empreendedorismo, inovação e tecnologia. Quais habilidades ou características você considera essenciais para um empresário que deseja expandir suas operações no mercado atual?

Autoconhecimento. Ele vai mudar ao longo do tempo, pois o que queremos como pessoa é extremamente mutável. O que importa é estarmos com clareza total sobre o que nos motiva, quais os nossos valores, para onde estamos indo e qual o verdadeiro motivo disso? Afinal, podemos empreender sem ter uma empresa própria, e eu posso usar o exemplo de alguns colaboradores nossos. Trazer soluções novas, pensar em caminhos alternativos e ter uma inquietação construtiva, tudo isso leva um profissional para uma trilha empreendedora.

O que você espera alcançar com sua participação no evento Horasis Global Meeting? Existem pontos específicos que você quer compartilhar com líderes de outros países?

Eu quero ampliar a realidade do empreendedorismo no Brasil. Mostrar que temos um país altamente promissor, com várias oportunidades, mercados, nichos, e uma cultura plural que enriquece qualquer tipo de negócio. Mas evidenciar que o nosso cenário é muito desafiador, com um ambiente político bastante polarizado e com uma economia que é fortemente impactada por decisões muitas vezes não pautadas por contextos econômicos, mas sim políticos. Trazer uma visão de que precisamos pensar na educação como base de desenvolvimento humano, e não plataforma de campanhas. Não importa a ideologia defendida, mas a ideia pensada.

Por fim, para os jovens empreendedores ou aqueles que estão começando agora, qual conselho você daria para quem almeja se tornar um líder de impacto global como você?

Sonhar. Ter sempre uma visão infantil sobre se projetar em novos lugares, com novas pessoas. Brincar na rotina profissional, como a criança brinca e viaja o mundo dentro da sala de aula. Precisamos infantilizar um pouco mais a nossa rotina, pois as crianças são as que mais nos ensinam sobre criatividade, inocência, determinação e alegria. E tenho certeza absoluta que teremos um mercado muito melhor se nossos líderes valorizarem e desenvolverem esses quatro aspectos na sua rotina.

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