Usamos cookies para melhorar sua experiência, personalizar conteúdo e exibir anúncios. Também utilizamos cookies de terceiros, como Google Adsense, Google Analytics e YouTube. Ao continuar navegando, você concorda com o uso de cookies. Veja nossa Política de Privacidade.

Dos esportes olímpicos até as corridas de rua: qual o papel da fisioterapia?

Camille Silveira de Mello
Mateus Dias Vasconcelos

Especialista em fisioterapia esportiva, Tarcísio Santos explica como a seu trabalho impacta diferentes modalidades

Estrutura de recovery montada aos sábados no Bar Doca Oito oferece técnicas de relaxamento muscular e recuperação ativa para corredores e ciclistas que frequentam a Orla. (Foto: Mateus Dias / Beta Redação)

Quem percorre a Orla do Guaíba nos sábados de manhã já deve ter passado pelo Bar Doca Oito e visto a sequência de cadeiras com botas de relaxamento, além da banheira de gelo. Essas peças fazem parte do Recovery – um conjunto de processos que focam na recuperação pós-treino dos atletas. Quem buscou trazer essa estrutura para a Orla todos os sábados foi Tarcísio Santos, formado em fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e especialista em fisioterapia esportiva.

Antes de marcar presença nos sábados de diversos corredores profissionais e amadores, Tarcísio trabalhou com atletas de alto rendimento por cerca de oito anos, no Grêmio Náutico União. A sua rotina com equipes olímpicas de remo e judô era muito diferente da atual. Ao participar do preparo de atletas de categoria sub-18 e sub-21 como fisioterapeuta esportivo, o foco do seu trabalho baseava-se em manter a performance de cada atleta. “Performance não é estar sempre batendo o recorde mundial, mas é estar entregando o máximo dentro do que tu pode”, explica.

O fisioterapeuta esportivo Tarcísio Santos, responsável pelo projeto de recovery na Orla, destaca a importância da recuperação pós-treino para manter a performance e evitar lesões. (Foto: Mateus Dias / Beta Redação)

Entre treinos e medalhas

Dentro do Grêmio Naútico, o trabalho era focado e individualizado, reconhecendo os pontos fortes e pontos de melhoria de cada esportista. A rotina de fisioterapeutas que acompanham atletas durante o ciclo olímpico é diferente – e Tarcísio também já passou por essa vivência. Neste caso, a equipe que acompanha o time auxilia mantendo a série de treinos e os atendimentos de cada atleta. Ela é essencial para manter a performance e agir em situações de emergência.

As lesões traumáticas que ocorrem em esportes como o judô, basquete e o futebol, exigem tratamento urgente, por isso, o fisioterapeuta deve estar sempre próximo do campo. Outro exemplo de atuação é em casos de sobrecarga, comum em esportes de resistência como a corrida, o triatlo, até mesmo a natação. Nestes casos, o tratamento é contínuo.  A ação do fisioterapeuta varia de acordo com a necessidade de cada esporte, explica Tarcísio: “O atleta tem dor no joelho, mas qual o joelho? O joelho que joga basquete, o joelho que corre ou o joelho que nada? Qual o movimento? É do joelho que pedala ou do joelho que faz jiu-jitsu? Cada um tem uma especificidade de esporte, uma especificidade de treinamento.”

Acompanhamento integral

Seja qual for o esporte, o desenvolvimento é sempre realizado em equipe. Além do fisioterapeuta, psicólogos, nutricionistas e diversos outros profissionais trabalham juntos para que o atleta possa dar o seu melhor na competição. Tarcísio explica que “o esporte é um lugar no qual o atleta está no centro e a equipe multidisciplinar está girando em torno dele”. Por isso, é comum o contato entre profissionais, para entender e adaptar o trabalho às diferentes condições físicas e psicológicas de cada atleta, tanto em esportes de competição em times quanto em de competições individuais.

Corredores aproveitam a manhã de sábado na Orla do Guaíba, em Porto Alegre. A prática da corrida de rua tem atraído cada vez mais adeptos e exige atenção especial à recuperação física e mental. (Foto: Mateus Dias / Beta Redação)

Em novas pistas

Longe dos campos e tatames, o trabalho atual de Tarcísio está voltado a um esporte que se popularizou e cresce cada vez mais: a corrida de rua. Com as botas de compressão, a banheira de gelo e as técnicas de fisioterapia aplicadas por profissionais, os corredores que fazem da Orla a sua pista podem desacelerar e realizar o recovery passivo. Além deste, existe o recovery ativo – em que o atleta utiliza exercícios de moderada a baixa intensidade para que o corpo consiga melhorar de maneira mais independente.

Existe também uma terceira etapa de recuperação, o recovery pró-ativo. Nesta etapa, o cuidado é com a mente, e a recomendação é de realizar atividades socioculturais, afastadas do esporte. “Porque o esporte é lesivo para o corpo, mas também é lesivo para a mente”, explica Tarcísio. O esforço para um melhor desempenho pode acarretar pressões mentais, em estresse e ansiedade. Por isso, é fundamental saber o momento de parar e descansar. Essa pausa é fundamental e deve estar prevista no treinamento de todo atleta, profissional ou amador.

As corridas de rua adquirem cada vez mais participantes durante os anos. Sua premissa democrática atrai uma faixa da população que deseja colocar o exercício físico na rotina de uma forma simples. Entretanto, alguns cuidados ainda são necessários. Em corredores iniciantes, a maior parte das lesões está relacionada à falta de preparo e à sobrecarga do corpo, que ainda não está preparado para tolerar a carga que a corrida demanda. Questões como a canelite, a fratura por estresse e a edema óssea são comuns em iniciantes.

Para evitar lesões e fraturas, Tarcísio oferece duas recomendações que estão interligadas. A primeira é construir sua rotina de exercícios junto de um profissional, para começar de maneira gradual e adequada. A segunda é entender respeitar o tempo do processo, entender a corrida como um esporte individualizado. Mesmo em grupos, cada um possui sua velocidade e suas limitações. Tu quer correr agora, mas como foi a tua vida? Tu já era atleta ou não? Tu fazia treino de força? Alguma vez tu já competiu? Como é a tua história com o músculo esquelético? Já teve cirurgias, lesões? […] Essa individualização é muito importante. Tem que ter essa autoconsciência, pra poder fazer começar a correr. “

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia também