CineSul reconhece profissionais do cinema gaúcho e leva sessões a bairros periféricos de São Leopoldo

Mesmo com chuva forte, público ficou até o final do Festival Estadual de Cinema Itinerante para acompanhar as produções audiovisuais realizadas no Rio Grande do Sul

A tarde de domingo de 17 de maio, no bairro Scharlau, em São Leopoldo, prometia um grande evento audiovisual com a chegada do CineSul, Festival Estadual de Cinema Itinerante, na Praça Roque Scherer. Tudo corria bem, pois as produções audiovisuais que seriam exibidas estavam selecionadas, a organização do telão e cadeiras na praça estava alinhada e os vendedores de pipoca e chopp tinham garantido presença. Mas, como a vida é uma surpresa, um forte temporal atingiu a região metropolitana de Porto Alegre instantes antes do evento começar. 

Tudo parecia que daria errado com a sessão ao ar livre. Mas não dessa vez, porque a cultura não pode parar. O CineSul, apoiado através de recurso da Lei Paulo Gustavo e conduzido pelas artistas Anitta Coronel, Aline Lasch e Amanda Flóis, tinha um plano B, que garantiria sua execução na terceira semana consecutiva de cinema itinerante pelos bairros leopoldenses.

As sessões, que contam apenas com curta e média-metragens, animações e documentários produzidos por artistas gaúchos, precisou ser transferida para a Sociedade Recreativa União, que fica ao lado da praça. Nem a chuva e nem o baile com música alta que ocorria em um salão próximo foram capazes de acabar com o espetáculo.

CineSul passou por quatro bairros de São Leopoldo e fez o público assistir atentamente as produções. MARCEL VOGT / BETA REDAÇÃO

As cadeiras de madeira estavam organizadas e o cheiro da pipoca pairava pelo ar enquanto Anitta Coronel, idealizadora e produtora do projeto, recebia o público na entrada. “A ideia de ser itinerante, saindo do centro e indo para as periferias da cidade, é para trazer o acesso a todos. Muitos nem saberiam que existem esses filmes, mas estão passando por aqui e param para ver”, enfatiza. 

Uma sessão de cinema desse tipo vai muito além de um telão cercado de cadeiras. Dentro daquela grande sala na Sociedade União também estava o pipoqueiro Marcio Ost, dono da Family Popcorn. “Tenho costume de estar presente nesse tipo de evento. Hoje eu iria para outro local vender pipoca e deixaria minha filha e meu genro responsáveis por vender no CineSul”, pondera. Porém, por conta da chuva forte, a outra atividade acabou cancelada. “Então decidi vir aqui junto para ficar assistindo aos filmes e tomar chimarrão enquanto eles trabalham”, completa.

Ao lado da Family Popcorn estava Aline Vargas, vendedora de luminárias artesanais e bolo de pote. “Esse tipo de evento é ótimo para mostrar o que é feito por nós. Temos muita gente com criatividade na região”, garante. Enquanto vendia, Aline também tentava curtir os filmes. “Quando não tem ninguém na frente da tela, também aproveito para assistir um pouco”, conta.

Luminárias a venda feitas pela comerciante Aline Vargas. MARCEL VOGT / BETA REDAÇÃO

Produções selecionadas

Além de um evento itinerante, o CineSul também se configura como um festival de cinema do Rio Grande do Sul. “Nós criamos um edital e recebemos, no total, 51 inscrições. Depois fizemos uma curadoria e ficaram 21 selecionados para o festival”, explica Anitta. A seleção buscou produções que atendessem aos critérios de ser um conteúdo livre para todos os públicos e ter qualidade de som e imagem. “A gente não quis tirar a galera por outros motivos, porque todo mundo tem as suas próprias ideias”, argumenta. Essas 21 produções foram divididas para serem exibidas durante as quatro sessões itinerantes do CineSul nos bairros Feitoria, Cristo Rei, Scharlau e Vicentina. 

Entre as obras exibidas na Sociedade União estava o curta-metragem Marina, também apoiado pela Lei Paulo Gustavo, do diretor e roteirista João Boeira. “A gente tinha alguns rascunhos de roteiro, então fomos unindo ideias e chegamos no Marina. Também captamos algumas referências, como o filme A Dama do Cine Shangai, produção brasileira no estilo noir”, detalha. Quem também marcou presença foi o ator principal do curta, Vanius Rocha. “Eu sou do teatro, mas a Paulo Gustavo te proporciona isso de experimentar outras áreas. A atuação para o palco é mais exacerbada, precisa de mais volume de voz. No cinema tu tem que reduzir tudo isso porque a câmera vem buscar a tua interpretação”, esclarece.

Ator principal, Vanius Rocha (E), e diretor e roteirista, João Boeira (D), do curta Marina. MARCEL VOGT / BETA REDAÇÃO

Filme de qualidade também atrai fãs, como é o caso de Marlene Pereira Fortes, 93 anos, que veio de Cachoeira do Sul para prestigiar o trabalho de alguns conterrâneos que atuaram no curta Marina. “Estou muito feliz de fazer companhia para o Vanius, que é o ator do filme. Tudo o que acontece dentro de Cachoeira do Sul é uma grandeza, porque Cachoeira também está progredindo no cinema”, comemora.

Pensando em todos os tipos de público, o CineSul também providenciou duas intérpretes de libras que ficam revezando entre as exibições. “Não é apenas traduzir do português para libras, nós também temos que trazer o contexto para o surdo”, explica a intérprete Júlia Dahm, que atua há 10 anos na área. A profissional passou por um grande desafio na sessão da semana anterior. “Teve um filme com muitas gírias e sotaques do interior do Rio Grande do Sul. A gente escuta e entende, mas é bem difícil trazer para a cultura surda. O sotaque pode ser parte da história para quem ouve, mas para o surdo não faz sentido”, exemplifica.

Intérprete de Libras, Júlia Dahm, traduzindo os filmes. MARCEL VOGT / BETA REDAÇÃO

E foi assim, com profissionais de diferentes áreas envolvidos, que cinco produções audiovisuais gaúchas foram apresentadas ao público no bairro Scharlau. “Eu acho que veio mais gente do que eu imaginava, sabe? E as pessoas foram ficando até o final assistindo”, celebra a produtora do CineSul, Aline Lasch, conhecida como Ally. “A gente está numa época em que todo mundo tem a Netflix ali na ponta do dedo. E aí tu sai num dia de chuva para ir em um lugar diferente assistir um filme que tu não sabe se tu vai gostar ou não. Então é muito incrível a gente conseguir trazer as pessoas aqui hoje”, finaliza.

Cerimônia de premiação

Como todo bom festival de cinema, o CineSul terá uma cerimônia de premiação marcada para as 18h de 8 de junho, domingo, no Teatro Municipal de São Leopoldo. Todas as 21 obras exibidas nos bairros estarão concorrendo. “A ideia é ser um festival competitivo. Serão 33 prêmios no total, como melhor direção, ator, som, montagem, roteiro, voto popular, entre outros”, detalha Anitta. Para fomentar ainda mais o audiovisual local, os premiados em melhor animação, documentário, curta-metragem e média-metragem receberão um valor financeiro. 

Mais detalhes para garantir o ingresso gratuito da cerimônia serão divulgados em breve na conta @festivalcinesul, no Instagram. Faça chuva ou faça sol, o cinema gaúcho segue em frente.

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