Mais do que um encontro de tradição e memória, o Acampamento Farroupilha se consolida, ano após ano, como um motor de geração de renda e movimentação econômica em Porto Alegre. O evento, que transforma o Parque Harmonia em um símbolo vivo do Rio Grande do Sul, reúne milhares de visitantes, movimenta o comércio local e sustenta piquetes que mantêm a chama do tradicionalismo acesa.
Entre esses grupos está o Piquete Tio Flor, do bairro Partenon, com sede também em Cidreira, litoral gaúcho. No acampamento desde 2002, o grupo é conduzido por Thayrine Bottega, que fala com orgulho sobre o propósito que os move. “Nós sempre somamos pelo tradicionalismo. Desde os seis anos eu estou aqui, e o que me traz é reencontrar pessoas, viver a cultura e fortalecer esse espírito gaúcho que a gente tem nas veias”, conta. O nome do piquete homenageia o avô de Thayrine, conhecido como Tio Flor, “um cara excepcional”, como ela define, lembrado com carinho por todos.

A presença dos piquetes no Harmonia é, antes de tudo, uma celebração da cultura, mas também envolve esforço financeiro e organização. “A gente não preza pelo lucro, se bobear, nossa cerveja é a mais barata do parque”, brinca Thayrine. Mesmo assim, há custos fixos importantes: cada lote custa cerca de R$ 1,2 mil por mês, valor pago aos organizadores pela estrutura e segurança do parque. Este ano, no entanto, o cenário ficou um pouco mais leve para os acampados. “Foi o primeiro ano em que nós ganhamos os banheiros químicos. Isso ajuda muito no custo-benefício, porque antes a gente pagava do próprio bolso. Para nós, que somos um piquete grande, com dois lotes, foi um alívio”, explica.
O apoio mencionado por Thayrine faz parte de um esforço maior do governo estadual para fortalecer o evento e o comércio que gira em torno dele. Juntamente do mês farrapo, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico lançou neste ano a primeira edição da campanha Ganha-Ganha Farroupilha, realizada entre 6 e 21 de setembro. A iniciativa uniu tradição e mercado ao incentivar o consumo consciente, estimular a emissão de notas fiscais e valorizar a cultura gaúcha.
De acordo com dados da secretaria, 1.744 lojas de todo o Estado aderiram à campanha. Durante o período, foram emitidas 139 milhões de notas fiscais com CPF, um número superior ao registrado em 2023 e 2024. No total, 4.782 prêmios foram distribuídos especificamente dentro da ação, o que representa quase 40% de todos os contemplados pelo programa Nota Fiscal Gaúcha naquele mês. Além dos prêmios, a campanha promoveu vitrines temáticas em diversos municípios e incentivou a movimentação no comércio local, do interior à capital.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, o resultado mostra o quanto a cultura pode ser uma aliada do crescimento. “A Ganha-Ganha Farroupilha foi além de uma ação promocional. Ela celebrou nossa identidade e também atingiu números expressivos já no primeiro ano, com impacto positivo na economia. A iniciativa provou que tradição e desenvolvimento econômico podem caminhar juntos”, afirmou Polo em entrevista.
Essa sinergia entre cultura e economia é perceptível também no Parque Harmonia, onde os 236 piquetes instalados movimentam fornecedores, geram empregos para mais de 5 mil profissionais, contratados para a montagem, operação comercial, limpeza, segurança e alimentação. Há mais de 50 operações comerciais funcionando dentro do acampamento, o que estimula compras de insumos locais e cria renda para comerciantes e artesãos. A presença de público, estimado em mais de 2 milhões de visitantes ao longo dos 21 dias, aquece o setor de alimentação, transporte, hospedagem e comércio em Porto Alegre.

Outro destaque do acampamento é a Feira da Agricultura Familiar, que movimenta a produção de pequenas agroindústrias gaúchas e amplia o alcance do evento para além do Parque Harmonia. Em 2025, a feira registrou um faturamento de R$ 606,9 mil em apenas 15 dias, segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Rural.
Mesmo aqueles que participam apenas pela paixão tradicionalista, como o Piquete Tio Flor, acabam contribuindo para um ecossistema econômico que se amplia a cada edição. Entre chimarrões, churrascos e danças, o Acampamento Farroupilha se mostra não só como um espaço de celebração cultural, mas também como um modelo de desenvolvimento sustentável, onde identidade e economia se reforçam mutuamente.
Em um Estado que tem na tradição um de seus maiores patrimônios, o sucesso do acampamento é também o sucesso do próprio Rio Grande do Sul: uma prova viva de que preservar as raízes pode ser, ao mesmo tempo, um ato de orgulho e de prosperidade.
