O transporte público de Porto Alegre vive um momento de transição sustentável. Em setembro, a prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), apresentou um novo modelo de ônibus elétrico articulado e confirmou a aquisição de 100 novos veículos sustentáveis, ampliando a frota atual. O investimento, orçado em R$ 447 milhões, será viabilizado por financiamento do BNDES/Finame, no âmbito do Novo PAC, e deve consolidar a capital como uma das cidades brasileiras mais comprometidas com a descarbonização do transporte público.
Atualmente, 12 ônibus elétricos circulam regularmente em cinco linhas da cidade, três delas totalmente elétricas (E358, E178 e E703) e duas em modelo híbrido, compartilhando operação com veículos a diesel (linhas 110 e 1.5). Esses veículos, implantados em agosto de 2024, já completaram um ano de operação. Segundo a SMMU, o projeto piloto trouxe resultados expressivos: quase 700 toneladas de dióxido de carbono equivalente deixaram de ser emitidas na atmosfera, além de uma economia de cerca de R$ 1 milhão em combustível nesse período.
“Esses resultados são muito consideráveis, tanto pelo aspecto ambiental quanto pela experiência do usuário”, explicou o secretário Adão de Castro Júnior em entrevista à reportagem. “Os ônibus são silenciosos, confortáveis, e tanto passageiros quanto motoristas relatam uma melhoria significativa na operação. Muitos motoristas, inclusive, não querem mais voltar a conduzir veículos a diesel por causa do ruído e vibração”.

A eletrificação como eixo do Plano de Ação Climática
A ampliação da frota elétrica é um dos pilares do Plano de Ação Climática de Porto Alegre (PLAC), instrumento que orienta o conjunto de políticas da cidade voltadas à mitigação das emissões de gases poluentes e à adaptação aos impactos das mudanças climáticas.
O plano estabelece metas até 2050, quando a cidade pretende alcançar a neutralidade de carbono. No setor de transportes, o foco é reduzir progressivamente o uso de combustíveis fósseis, substituindo-os por modais de baixa ou zero emissão.
“Hoje, cerca de 67% das emissões de Porto Alegre vêm do setor de transportes, e, dentro desse percentual, aproximadamente 10% são provenientes do transporte público”, destaca o secretário. “A substituição gradual da frota por veículos de emissão zero, elétricos, a hidrogênio ou movidos a biocombustíveis, é uma das principais ações previstas dentro do PLAC”.
A eletromobilidade não é um projeto isolado. Ela está conectada a outras políticas municipais, como o Plano de Logística Sustentável e o Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PDMU), além de estar alinhada aos ODSs da Agenda 2030 da ONU. De acordo com as estimativas da SMMU, quando a frota total de 112 ônibus elétricos estiver em circulação, a cidade deixará de emitir mais de 8 mil toneladas de dióxido de carbono por ano. Esse número deve ser ainda maior, considerando que parte dos novos veículos será composta por modelos articulados, com maior capacidade e eficiência energética.
Impacto, operação e infraestrutura
A previsão é que os novos ônibus comecem a chegar a partir de 2026, em entregas escalonadas. O objetivo é garantir a integração gradual ao sistema de transporte e permitir a adaptação da infraestrutura necessária, como estações de recarga e garagens equipadas.
De acordo com o secretário Adão Júnior, hoje, Porto Alegre tem estrutura de recarga em três garagens, que atendem os 12 veículos já em operação. Com o novo projeto, a prefeitura irá expandir para as nove garagens da cidade, além de instalar pontos de recarga rápida em terminais estratégicos, como o Terminal Triângulo da Assis Brasil, a Antônio de Carvalho e a Azenha. Essas estações permitirão que os ônibus recarreguem durante o intervalo entre picos de operação, o que garante eficiência energética e operacional.
Os veículos articulados, como o modelo e-Bus, contam com autonomia média de 250 quilômetros por carga, o suficiente para cumprir toda a jornada diária. Além disso, oferecem maior conforto térmico e acústico, acessibilidade, tomadas USB e wi-fi.
O secretário ressalta que os benefícios vão além da economia financeira: “A gente ainda não mensurou totalmente o impacto das chamadas externalidades positivas, como a melhoria na saúde humana. Mas já sabemos que a redução de materiais particulados e de óxidos de nitrogênio, presentes na queima do diesel, tem reflexos diretos na qualidade do ar e no bem-estar da população”.
O futuro da mobilidade sustentável em Porto Alegre
A expansão da frota elétrica é apenas uma das frentes do programa de mobilidade sustentável que Porto Alegre vem implementando. A cidade também investe em bicicletas e patinetes elétricos compartilhados, que já somam mais de 2,3 mil unidades em operação, e desenvolve projetos de infraestrutura para carregadores públicos de carros elétricos.
A aposta da prefeitura em eletromobilidade é um reflexo do crescimento de políticas ambientais locais. Ao integrar o PLAC às ações de transporte público, a cidade sinaliza que sustentabilidade não é mais apenas um discurso, é um projeto de futuro em andamento.
