Apesar de um aumento de cerca de 35% no preço da carne, em setembro, o consumo no Rio Grande do Sul registrou pico anual, e os açougues veem salto de até 40% nas vendas, na chamada “temporada natalina” do mercado gaúcho.
Segundo a Fecomércio-RS, setembro costuma ser um mês fraco para o comércio em geral. Contudo, destaca-se uma exceção: os produtos ligados à cultura tradicionalista. A economista-chefe Patrícia Ullmann Palermo observa que “é o Natal de quem vende produtos tradicionalistas, e na Semana Farroupilha a demanda dispara”.
O acampamento Farroupilha, um dos maiores eventos culturais do estado, é apontado como principal motor desse consumo. A 43ª edição, somente em Porto Alegre, atraiu mais de 2 milhões de visitantes e abrangeu cerca de 230 piquetes no Parque Harmonia, com mais de 120 atrações. Mas, entre as tantas manifestações culturais, o churrasco é o que mais movimenta.
Segundo relato de “patrões” de piquete, estima-se que se consumam até 400 toneladas de carne no evento.

Rafael Sartori, dono do açougue Santo Ângelo, comenta sobre o comparativo das vendas de agosto para setembro: “Agosto não é um mês bom para churrasco, é um mês mais frio, mais chuvoso, o pessoal se reúne menos”. Em 2025, foram cerca de 230 milímetros no mês de agosto, superando em quase o dobro a média esperada. Já setembro também é um mês chuvoso, porém é de costume o encontro de famílias nos feriados, e, para Rafael, “setembro é um mês muito especial, é um mês que a gente adora”. Ele adiciona: “A gente faz parceria com piquetes, faz parceria com assadores, entrega de moto, a gente dá condições especiais, o que nós pudermos fazer, nós vamos”.

No ano anterior, o açougue Santo Ângelo vendeu 950 kg de costela durante a Semana Farroupilha; em 2025, segundo o proprietário Rafael Sartori, o volume subiu para 1,2 tonelada. Embora esses números se refiram apenas à costela, corte icônico do churrasco gaúcho, outros cortes também têm protagonismo: “Os que mais cresceram nas vendas foram costela, vazio, picanha, maminha, entrecôte, ripa da chuleta”, comenta Rafael. Ele também nota uma diversificação de pedidos para churrascos familiares com cortes como prime rib, entraña ou assado de tira, que ele classifica como “mais luxuosos”.
Está época também simboliza um método de compra diferente também para os açougues, como explica Rafael: “Um açougue compra uma carcaça e vende vários cortes. Esse boi dá em média 60%, 70% cortes do dia a dia e 30%, 40% cortes de churrasco”. Durante o mês de setembro, há uma diferença: “A gente compra a costela separada do boi para poder atender a demanda. Compramos só a costela, pois ela sozinha vende mais do que todo o resto”.

Acompanhado do aumento da procura por carne pelos consumidores, também é possível notar um aumento no preço do produto, algo que contrapõe a média dos produtos. Patricia Ullmann analisa o mês: “Setembro é tipicamente um mês mais fraco para a maioria dos segmentos varejistas. Salvo no caso do vestuário, em que há troca de coleção, as vendas costumam ser mornas”, e isso muitas vezes leva a uma certa recessão em diversos produtos, porém o mercado da carne é quase que diretamente oposto.
Dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro)/UFRGS indicam uma alta de 34,8% nos preços da carne bovina entre agosto e setembro dentro do Rio Grande do Sul, um movimento que vai além da mera elevação de demanda, apontando também para pressões vindas do mercado internacional. A retração de rebanhos entre os grandes produtores globais (Brasil, Argentina, Austrália, EUA) também contribui para o fenômeno.
Apesar disso, alguns açougueiros contestam os números, afirmando que os preços em seus dispositivos não acompanharam essa elevação ou até permanecem mais baixos. Para eles, cabe ao consumidor visitar as lojas pessoalmente e verificar os preços “no balcão”.
