Leandro Roberto da Costa Brandão, 51 anos, é treinador e um dos idealizadores do Grêmio Legends, time formado por ex-jogadores do Grêmio que disputam jogos comemorativos e eventos pelo Brasil. Ex-atleta da base Tricolor nos anos 80 e com passagem pelo São José, Brandão é formado em Educação Física e pós-graduado em Ciência do Movimento Humano. Além do trabalho no Legends, apresenta o programa Arena Tricolor na RD Tricolor, onde entrevista ex-jogadores e revive a história gremista.
Nesta entrevista, ele conta como nasceu o projeto, relembra histórias marcantes, detalha a Copa Brasil de Futebol Master, considerado o maior desafio do time até hoje, e compartilha incertezas sobre o futuro do projeto.
Como surgiu o Grêmio Legends?
Começou lá por 2010, 2011. Eram só encontros entre o grupo da base dos anos 80 do Grêmio, uma peladinha entre nós e sempre com churrasco no final. Em 2012, recebi um convite de uma academia em que eu dava personal, que tinha um time, e o cara me convidou para montar um time do Grêmio para jogar contra eles, porque via as fotos no Facebook dos encontros, via o André Vieira, o Cassiano, o Jax, o Danrlei, e claro que esses com nome maior chamavam mais atenção.
Conversei com o pessoal, aceitaram e fomos jogar. Só que, na época, nós já tínhamos de 35 a 40 anos, e o adversário era só gurizada. Nossa primeira partida a gente nem tinha camisa do Grêmio, não tinha uniforme, pegamos fardamento de um dos caras do grupo que parecia o do São Paulo de Rio Grande. Jogamos contra o time da academia Três Figueiras, saímos ganhando de 1 a 0, no final eles empataram e ficou 1 a 1. Esse foi o primeiro amistoso.
Depois disso, fizemos outro encontro e o André Vieira me lançou a ideia de fazer um blog. Aí comecei a registrar os jogos, postar fotos, organizar pelo Facebook e por e-mail. Em 2012 jogamos umas 5 partidas, em 2013 já foram mais de 10. Demoramos 12 jogos para ganhar a primeira partida, porque todos já estavam parados há muito tempo, aposentados, sem ritmo.
Quais tipos de jogos que a equipe costuma disputar?
O Grêmio Legends já passou dos 200 jogos. Já fizemos inauguração de escolinhas, amistosos beneficentes, jogos comemorativos e até Gre-Nal. No jogo de número 100 conseguimos um patrocinador de Sapucaia, o IFSul, que nos deu um uniforme branco com patch de 100 jogos. Depois, para o jogo 200, tivemos apoio de um patrocinador de Camaquã, que nos ajudou com material, camisas de passeio e pagou o uniforme com patch de 200 jogos na Dresch.
Hoje já são mais de 220 partidas e vamos em busca dos 300. Só que a galera está ficando mais velha, então ficou mais difícil. Perdemos muita gente na pandemia, alguns não têm mais condições de jogar, outros preferem ficar com a família, mas seguimos com esse espírito de confraternização e de reencontro. A ideia sempre foi essa: rever amigos, vestir a camisa do Grêmio e matar a saudade da bola.
Como foi a experiência de disputar a Copa Brasil de Futebol Master, a única competição oficial da história do Grêmio Legends?
Esse foi o grande projeto. Em 2020 para 2021, o meu amigo e empresário de jogadores, Izidoro Portela, recebeu um convite dos ex-jogadores Somália e Regis, que estavam lançando uma empresa de futebol master. Conseguiram patrocinadores e apoio da Sportv para transmitir os jogos. O Inter já estava na competição, mas o Grêmio não. O Izi foi no próprio clube, mas o responsável da área não quis, nisso, ele me procurou, porque já acompanhava todo o trabalho que eu fazia com a base anos 80, e me propôs o desafio.
Para participar, precisava da assinatura do presidente do Grêmio na época, Romildo Bolzan. Em dois dias marquei uma reunião com ele, mas, como era pandemia, não podia ser na Arena. Fomos até o escritório dele em Osório, expliquei que o clube não teria custo nenhum, que a organizadora arcaria com cachês, transporte e hotel. Romildo assinou e, assim, o Grêmio Legends entrou na competição. Era um contrato de cinco anos, um projeto muito grande, mas a organização começou a se atrapalhar com dinheiro: compravam passagens de última hora, pagavam mais caro, estouravam orçamento. Resultado: não conseguiram terminar a competição, que deveria ter cinco temporadas, então acabou na primeira edição. Foi um baita projeto, mas não foi valorizado.
No torneio, os grupos eram formados em duplas: Grêmio e Goiás num lado, Inter e Coritiba no outro. Mas não jogávamos contra o parceiro do grupo e sim contra os do outro lado. A soma dos pontos definia quem passava. O primeiro jogo foi contra o Coritiba, no Sesc Protásio Alves. Empatamos em 1 a 1, com gol irregular deles — até o Paulo Nunes falou na transmissão no Sportv. Nosso goleiro foi o Emerson Ferretti, que hoje é presidente do Bahia, Gabriel na lateral esquerda, Rodrigo Costa e Luiz Fernando Carneiro na zaga, Lúcio na lateral direita, Carlos Alberto, Jamir, Magno recuado para a meia e Zé Roberto no meio, Rodrigo Mendes e Somália no ataque. No banco tinha Nildo Bigode, Cláudio Pitbull, Cassiano, entre outros. Era um baita time.
Depois, no sábado, jogávamos contra o Inter, mas a organização mandou as passagens deles na quinta-feira e eles chegaram tranquilos, já as nossas passagens chegaram só na sexta à noite. Resultado: Zé Roberto, Lúcio e Gabriel não vieram. Além disso, o campeonato pagava apenas R$500 por jogo para cada atleta, o que não era atrativo para alguns jogadores desse nível. Danrlei, por exemplo, não aceitou participar pelo valor. E aí fomos muito desfalcados.
O Inter tinha a base do time campeão do mundo, era uma máquina. Mesmo assim, criamos chances, mas o Somália perdeu três gols inacreditáveis. Eles abriram com Rubens Cardoso e depois o Daniel Carvalho marcou o segundo. Perdemos por 2 a 0 e fomos eliminados. Frustrante, porque tínhamos elenco para ir longe e éramos considerados um dos favoritos, mas, entre problemas de organização, logística e desfalques, acabou precocemente. Esse foi o único campeonato oficial que o Grêmio Legends disputou.
Como foi definido que você seria o treinador da equipe?
Foi nessa copa que virei treinador. O Izidoro Portela disse que eu tinha o perfil, porque conhecia todo mundo e tinha contato com todos os jogadores. Então acabei acumulando as funções: treinador e diretor, visto que fui eu que contratei, montei o time, organizei logística. Até joguei em alguns amistosos, mas, no campeonato, fiquei só na beira do campo. Foi ali que realmente assumi como técnico do Grêmio Legends.
O Grêmio apoia o projeto de alguma forma?
Nunca tive apoio do clube. Não ganhei fardamento, não ganhei bola, não tive massagista, nada. Tudo o que conseguimos foi por conta própria, com apoio de patrocinadores ou amigos. O que tive foi a assinatura do presidente Romildo, que me permitiu usar o nome Grêmio Legends, mas essa licença vence no final de 2025. Depois vou avaliar o que fazer, porque da gestão atual não veio nada.
O que representa o projeto para os jogadores e para a história do clube?
O mais importante é o reencontro: voltar a jogar com quem não víamos há anos, relembrar o tempo da base e estar de novo com o torcedor. Ao longo desses 15 anos, construímos uma história de amizade, memória e identidade gremista, que celebraremos em novembro com uma grande festa. O Legends é memória viva do Grêmio.