Gordofobia: o padrão é desconstruir
Aceitação do corpo é um dos principais fatores para combater o preconceito

Blogueira Ju Romano é a primeira modelo plus size a ter ensaio na Revista Playboy. (Foto:
Vivi Bacco/ Divulgação Playboy)
Empoderar é um verbo que passou a fazer parte de discussões por conta da atuação de diferentes movimentos. São grupos que lutam pelo feminismo, por causas LGBT e contra o racismo, por exemplo. Nessa esfera, outra forma de preconceito a ser combatida é a gordofobia. O termo se refere ao ato de ter percepção negativa em relação a pessoas com sobrepeso. A prática reflete, por exemplo, em comentários e olhares maldosos.
A nutricionista Natália Narciso Corrêa, sócia do Vincular Espaço Multidisciplinar, em Gravataí, afirma que o preconceito pode fazer com que se desenvolvam transtornos alimentares e psicológicos. A profissional conta que uma de suas pacientes fazia jejuns prolongados para emagrecer 10kg em um mês, além de tomar medicamentos. A atitude, segundo Natália, causou enxaqueca e queda de pressão. “Algumas vítimas acabam entrando em desespero e tentam perder peso de formas radicais, adotando dietas extremamente restritivas, assim como uso de medicamentos para emagrecimento”, menciona.
Operadora de caixa em uma loja de roupas, Yasmin dos Santos Rodrigues, 20 anos, comenta que a questão do peso sempre gerou incômodo por diferentes motivos, como a dificuldade na infância e adolescência para encontrar roupas que desejava. A jovem diz que a ascensão das linhas plus size reduziu os problemas para renovar o armário. No entanto, Yasmin lembra que ainda não encontra nas grandes lojas opções de tamanhos que ultrapassem o número 46.

Arte: Paola Rocha/Beta Redação
“Hoje em dia, já debatemos mais sobre esses assuntos polêmicos, incluindo a gordobia, mas há algum tempo não era assim. Sofri muito na minha adolescência. Pensando em uma garota como a Yasmin de 13 anos, como vou botar na cabeça da menina que o peso dela não tem nada de errado e que, se ela quiser mudar, tem de mudar por si própria e não pelos outros? Não é por que ela não se vê na televisão que está fora do padrão”, reflete.
Yasmin acredita que o tema deve ser mais discutido e salienta que seu processo de aceitação não foi algo fácil. “Você sofre com a gordofobia mesmo depois que emagrece”, avalia.
Amor próprio para combater o preconceito
Assim como Yasmin, muitas pessoas vivem fases difíceis durante a adolescência. Estudante de Relações Públicas, Ana Alice Meireles, 21 anos, comenta que nesse período os efeitos do preconceito foram mais severos. “Eu sou muito vaidosa e já tive mais dificuldades para lidar com a questão do meu peso. Hoje vivo muito bem porque percebi que durante a adolescência existe mais preconceito, o que gera mais insegurança com nosso peso. Mas, quando a gente vai amadurecendo, percebe que as pessoas não são muito ligadas nisso”, conta.

Arte: Paola Rocha/Beta Redação
Ações de representatividade
Casos de empoderamento, aceitação e representatividade ganharam força por conta de ações como a que ocorreu na última edição do São Paulo Fashion Week. No evento, modelos plus size desfilaram pela marca de roupas LAB. Também neste ano, a Nike escolheu mulheres curvilíneas para estampar sua nova linha esporte. Por sua vez, a edição brasileira da Revista Playboy tem pela primeira vez ensaio com uma modelo considerada plus size, a blogueira e jornalista Ju Romano (foto de destaque).
- Publicado em: 08/11/2016
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